O que nos interessa aqui por em questão é a validade desta sensação, uma vez que, por meio das etiquetas de identificação das obras, ou através dos monitores que trabalham nas exposições, temos a possibilidade de cairmos no desconcerto constrangedor ao tomarmos consciência do anúncio - escrito nas plaquetas ou dito oralmente - da manipulação digital das imagens.
Ao nos apercebermos deste jogo visual ludibriante temos uma “decepção” em relação à intensidade e a força do impacto que teve sobre nós tais imagens.
Portanto, uma vez que o artista nos concede esta informação (a da manipulação da imagem) de uma maneira ou de outra, dispondo-a ao nosso alcance – seja pelas etiquetas ou pela orientação dos monitores –, podemos reorientar agora o motivo do seu trabalho não mais para a ação do artista apresentada nas imagens fotográficas, mas para a problemática da função e do poder da imagem nas artes visuais e da veracidade da atitude do artista (que a partir das vanguardas tardias foi posta em destaque frente a outras características de um trabalho artístico, tais como o resultado formal, a habilidade de confeccionar manualmente e a materialidade da obra).
Se o anúncio da estratégia do artista para a constituição de seus trabalhos é dado de maneira tão imediata e espontânea – o que a princípio pode nos causar uma sensação de falência da obra – temos que nos atentar justamente para esta estratégia – a do revelar, explicitar esta artimanha - e perceber que é neste intervalo criado pelo jogo entre o que e como se apresenta na imagem e a ilusão que estas realmente são, é que se estabelece a força do trabalho de Rodrigo Braga.



Fantasia de Compensação, 2004
manipulação em imagem digital
Num período posterior a manifestações radicais exibidas por Marina Abramovic, Hermann Nitsch, Gina Pane e Rudolf Schwazkogler, entre outros, o artista brasileiro parece deslocar o foco do problema da obra da atitude – que era a força nos trabalhos dos artistas mencionados – para o impacto da imagem por si só.
Não sendo fruto de ações contundentes, agressivas e viscerais, as imagens fotográficas de Rodrigo criam a nulidade do primeiro efeito que nos geram: o da repulsa, o da experiência estética do feio, e o do choque.
Ao nos deparamos com as obras do artista, duas sensações nos percorrem automaticamente: 1) a do incômodo - pela recusa por ser uma verdade que nos agride, mas que também nos atrai pelo magnetismo que temos por aquilo que negamos; 2) a de frustração - por nos apercebermos acometidos por sensações correspondentes àquela verdade dos “registros documentais” e logo em seguida constatarmos a “fraude” promovida pelo artista que anula a experiência anterior.
O sentimento de confusão entre querer a realidade do que se apresenta na imagem - para continuarmos com a experiência do impacto - e a negação da verdade que desmistifica aquela ação, a banaliza, a traz para o nível do “truque” é o sentido mais profundo nestas obras do artista.


Risco de Desassossego, 2004
manipulação em imagem digital
Nestes termos, estes trabalhos são exemplos bem sucedidos do poder do artista quando este descobre pontos de tensão que podem dar continuidade aos desdobramentos da arte hoje - tantas vezes banalizada por estratégias pobres e derivativas sem imaginação e/ou inteligência.
Paulo Trevisan, 2006
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