Thursday, February 01, 2007

Cássio Vasconcellos - Imagens da cidade


Os trabalhos fotográficos de Cássio Vasconcelos apresentados em sua última mostra na Galeria Vermelho reforçam o uso de procedimentos adotados pelo artista já há algum tempo como elementos constitutivos de seu modo de perceber a urbe.
Nestes trabalhos, imagens da cidade são recortadas e fixadas em hastes que compõem um ambiente. A obra facilmente receberia a categorização de instalação, mas acredito que o interessante - muito mais do que pensar se o trabalho é uma instalação, fotografia ou “foto-contaminada” - é perceber o que ela pode propor como leitura, como significado nesta relação da imagem fixada pelo artista e transposta em fragmentos para o espaço.
Na sala da Galeria Vermelho, a imagem da cidade – dividida em vários suportes – fragmentada, parece reivindicar sua reintegração numa única configuração. Mas percebemos que existe uma resistência evidente entre as partes formadas pelas hastes com os fragmentos que interferem na rearticulação da imagem, não permitindo que ela se forme totalmente em nossos olhos sem a constatação de um “eco” – um ruído espacial existente entre as partes. Em suma: buscamos, na sala, por uma posição que nos coloque defronte àquela imagem da cidade e que possa nos possibilitar a melhor visão de sua integralidade, no entanto esta não se dá com êxito total.















São Paulo, 2006

Vista da exposição na Galeria Vermelho-SP


A fragmentação da imagem, mais especificamente, da imagem da cidade, nos põe diante do dilema unidade/fragmentação que é a natureza intrínseca da cidade.
Composta por partes, uma cidade é a soma dos conjuntos que a compõem. As pessoas que transitam pelos espaços urbanos possuem uma percepção parcial do ambiente no qual estão inseridas. E esta percepção cambiante vai se transformando de acordo com a localização da pessoa – se esta se encontra numa calçada, num automóvel em uma avenida, ou em uma janela de um edifício pequeno, ou ainda se ocupa um terraço de um arranha-céu. No final, o que temos é a soma deste conjunto de visões e percepções formando a noção geral que constituirá a imagem mental daquele meio. Por certo então, nunca a imagem mental é formada por uma única visão, mas pelo contrário – ela se constitue da totalidade múltipla das diferentes percepções espaciais da urbe.
É neste campo, onde ocorre o embate entre captação, elaboração e reelaboração da imagem (da cidade) que se situam algumas das mais importantes obras de Cássio Vasconcelos – como a apresentada na Galeria Vermelho e aquela apresentada na Arte/Cidade Zona Leste (2002). Nestas obras o artista faz com que o espectador de seu trabalho busque um ajustamento corpóreo diante dos fragmentos fotográficos dispostos no espaço e que este favoreça a construção da imagem integral daquele ponto de vista da captação do registro fotográfico.



Uma vista, 2002
1 fotografia composta por 67 ampliações fotográficas,
70 luminárias e um visor (400x900x120cm)
Vista da exposição Arte/Cidade Zona Leste, Sesc Belenzinho-SP



O jogo entre imagem e espaço, percepção da imagem e construção da imagem, imagem física (foto) e imagem mental faz com que a estratégia aparentemente simples de cortar e dividir a imagem fotográfica - imagem em corpo físico - ultrapasse o mero ilusionismo e abra caminho para camadas mais densas de significados que possam existir entre os focos postos pelo artista: a imagem fotográfica e o espaço real; a construção da imagem mental e a percepção do ambiente urbano que a gera, e, ainda, o embate dúbio entre imagem capturada (no caso fotograficamente) e imagem mental (elaborada pela soma de múltiplas imagens percebidas).


Paulo Trevisan, 2006


São Paulo, 2006
Fotografia

5 comments:

marcio cenzi said...

Gostei da fotomontagem.
mas senti falta de seu habitual texto.
a entrevista do Siron Franco é bastante interessante. Lúcida.
Há ainda artista com algo a dizer

Silvio Lourenço said...

olá, é a primeira vez que entro no blog, gostei; já tinha visto algumas das fotos (uma delas foi publicada do jornal Destak SP); quem mora em sp se identifica rapidamente, pois há um peso que a imagem carrega, o qual o habitante carrega em sua rotina citadina;

por indicação do márcio cenzi, linquei seu blog no canto do caracol (www.cantodocaracol.blogspot.com), pois ele terá contos publicados lá;
faça uma visite e se puder nos linque também para divulgar o trabalho.

Célia Mello said...

Oi Paulinho, não tem texto no trabalho da Cassio. por quê?????
Entre no site, www.fotografiacontemporanea.com.br
e no blog: fotocontemporanea.blogspot.com
Depois retorno...para ler os outros artigos.
bjs

Célia Mello said...

Oi Paulo,
li o teu recado no blog. Vou ler o artigo do Cassio. No site tem postado um artigo do Hugo Fotes sobre a Fotografia Alemã Contemporânea.
Se puder dê uma lida é bem interessante.
bjs

Unknown said...

Olá Paulo, sou aluna de artes na Anhembi, estou desenvolvendo um trabalho sobre o Wesley Duke Lee, e não encontro muita informação sobre o trabalho A Zona, vida e morte, será que teria algum material a seu respeito.
Muito obrigada.
Andréa
andrea_21@terra.com.br