Wednesday, December 26, 2007

corpo/ Arte/ imagem


O corpo como presença torna-se recorrente nas discussões da arte contemporânea. A partir dos anos 1950, questionamentos fundantes foram postos por pioneiros como Yves Klein, Piero Manzoni, Robert Rauschenberg e Alan Kaprow. A reivindicação da utilização do corpo do artista, ou do espectador, tornou-se o alvo para novas linguagens como body art (Marina Abramovic, Cris Buren, Ana Mendieta etc) e performances (Jim Dine, Joseph Beuys, Carolee Schneemann) e para as experiências sensoriais (Hélio Oiticica e Lygia Clark).


Marcela Tiboni
O gesto do artista, 2003
Fotografia


Sedimentadas pelo tempo, nos últimos anos, as linguagens se confluíram e se hibridizaram. Trabalhos conhecidos apenas por registros passaram a funcionar (e a se confundirem) com a obra final. Muitos dos trabalhos realizados, utilizando o corpo como suporte ou meio, sobreviveram através da documentação fotográfica. Assim, hoje, podemos acessá-los através de imagens que nos informam parcialmente sobre eles.
A exibição destes documentos em galerias e museus passou a ocorrer com freqüência, possibilitando que, em muitas vezes, sejam confundidos (ou mesmo tomados) como obras em si mesmos. A imagem deixa de ser documento para ser entendida como resultado em si.
É neste intervalo que esta exposição trabalhará, observando uma nova geração de artistas brasileiros, que desenvolve poéticas que em alguns aspectos se aproximam. Estes artistas, por exemplo, recorrem na utilização do corpo - no caso desta exposição do próprio corpo - para atingirem como resultado do trabalho uma imagem (apresentada como o resultado, como a obra).
A obra como imagem, e não como simples registro de performance, body art ou arte sensorial e de ação, vale-se da presença física do artista como elemento atuante, que participa e potencializa seu poder discurssivo, remetendo para aspectos múltiplos do trabalho como a imagem do artista (ou a auto-imagem), corporalidade e a condição física do corpo como elemento cultural e/ou natural (integrante de um ciclo da vida na Natureza).



Fernanda Figueiredo
Sem Título, 2003
Fotografia







Nos trabalhos selecionados, as imagens também propõem problemas de poéticas personalizadas, como ocorre com Fernanda Figueiredo que se vale do próprio corpo como superfície para o desenho. Os desenhos realizados com batom (normalmente vermelho), por ela mesma, nos oferecem um universo de figuras, ora inocentes, ora sensuais. O teor de feminilidade, corporeidade e sexualidade formam o centro de discussão desta artista que mergulha numa reflexão cultural da percepção e da representação do corpo feminino e da feminilidade. Ou Marcela Tiboni, que representa a sua experiência com a pintura (e seus elementos constitutivos) através de “dramatizações”, em que incorpora o poder da cor, a maleabilidade das tintas, o poder emotivo da pintura e o reconhecimento de si nas imagens representadas na arte.
As obras de Guilherme Teixeira discutem a relação homem, cultura e natureza. A imagem do artista aparece mergulhada em elementos naturais, como água, ou ainda, povoando a paisagem. Um sentido espiritual primitivo parece nortear a sua relação (e sua presença física) no mundo natural.





Guilherme Teixeira
Deslocamentos, 2005
Fotografia








Vitor Mizael, com uma percepção do Eu intimista (mediada pela palavra escrita), mergulha na interioridade física orgânica (com imagens conseguidas através de radiografias) para atingir a expressão do encontro entre o Eu físico (matérico) e o Eu espiritual (dado pelos elementos culturais presentes na linguagem verbal). Em seus Auto-retratos palavras definidoras de estados da alma (tristeza, angústia) e de estados físicos (limpeza) se somam às imagens do interior físico que não se vê.




Vitor Mizael
Auto-retrato (Vazio), 2005
Intevenção em radiografia


Em todos os casos, os artistas se valem da imagem como concentradora de suas poéticas, e como fim no resultado de seus trabalhos, apresentando o corpo como participante do trabalho e de seus significados.
A riqueza de debate proposta pelos enfoques de poéticas particulares, pautadas na concepção de imagens como obras, mas motivadas por questões que incluem ou evidenciam o corpo, a presença do artista e sua apresentação e/ou representação na obra é motivo para reflexões sobre os andamentos da arte atual. Um ponto para a reflexão sobre esta nova geração, e seu modo de se vincular com as conquista postas no contexto da produção contemporânea.




PS: Texto escrito em 2006, originalmente para um projeto de curadoria.
Optei, para esta seleção, trabalhos em imagens fotográficas ou similares (radiografias), por questões de viabilidade do projeto. Mas a discussão sobre a imagem pode ser levada para outros suportes como o vídeo, meio que guarda grande número de trabalhos com questões similares às propostas nesta curadoria.

2 comments:

Unknown said...

acho que meu mestrado terá mais participações especiais de Paulo Trevisan!!
obrigada por sempre acreditar no meu trabalho, simbolizo este agradecimento no presente "Para Mondrian" ou Para Trevisan, pois sem duvida muitas das minhas conquistas vem de saber não estar sozinha nesta empreitada. Salões, Premios, Exposições e Bolsas não me foram tão difíceis de conseguir se comparado á conquista do teu apoio. Sempre obrigada. Marcela Tiboni!!!

Anonymous said...

Adorei...ctz voltarei mais vezes!!!